terça-feira, 30 de julho de 2013

Se vai tentar (Charles Bukowski)

"Se vai tentar
siga em frente.
Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito

É a única coisa que vale a pena." Charles Bukowski




B.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ele procurou por muito tempo (Thomas Möhlmann)

“Cada passo diminui e aumenta o número de possibilidades
mas não as possibilidades que ele procura
tem de haver outro caminho que não este, mas assim que ele o toma,
tem de haver outro caminho. Abordou pessoas

apresentou-se sob nomes diferentes e perguntou se
as pessoas sabiam onde estavam. No mar alto, no umbigo do mundo
à beira de jardinzinhos bem-tratados: ninguém sabia.
Onde o ar era tão rarefeito que ele tinha vertigens, onde

 o ar denso lhe cortava a respiração, onde todos
se ofendiam mutuamente, onde ninguém se atreveria ir,
onde todos deveriam ter estado: ninguém sabia.” Thomas Möhlmann


B.

Casa das Sementes (António Osório)

"É triste não possuir uma casa de sementes 
Não adianta amar essas partículas ali ociosas,  
nem desejar que nidifiquem sem granizo  
e irrompam como a chama de uma vela.  
   
É triste pagar um preço pelo que há-de nascer,  
que o bersim perca a cor alazã penetrando na terra      
e o trevo da Pérsia alimente a boca das reses.  
     
É triste que não recusem essa densa, pródiga,  
obstinada servidão, a vitalidade apaixonada pelo sol,          
e não façam, como um camponês, as suas contas,  
exigindo a Deus e aos homens o salário da maquinação." António Osório




B.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Music (Forever)



Quando os descobri, soube de imediato que me apaixonaria para sempre. Foram das melhores descobertas musicais que fiz nos últimos dez anos. A perfeição da sua presença, a força de cada momento de silêncio, a inspiração presente em cada batimento cardíaco, a descrição marcante e principalmente a coragem na abordagem dos (des) amores faz com que marquem presença em todas as minhas playlist.
Hoje e em véspera de algum descanso e das férias, não resisti em colocar esta:









A música faz parte de mim, disso tenho a certeza. Muitas são as vezes em que é a minha força e inspiração (sim amor, tu estás sempre presente). As horas que dedico a pesquisar e a anotar mais músicas para um dia partilhar e ouvir dão-me um alento para continuar a sonhar e a procurar. São momentos, são pessoas, são vida, são períodos, são evolução, são ausências e partidas, são notas musicais sempre presentes e a tocar (mesmo sem som). Quero ligar o meu velhinho gira-discos e dançar a teu lado, quero montar o rádio de carro dos cartuchos, quero o ipod organizado, quero a(s) Playlist.

Já que comecei vou perder-me mais um pouco, agora num passado mais distante com mais algumas músicas, para sempre...





e para finalizar seria impossível não colocar sons em português





Com música ou em silêncio, até já...


B.



A Casa do Mundo (Luiza Neto Jorge)

“Aquilo que às vezes parece
um sinal no rosto
é a casa do mundo
é um armário poderoso
com tecidos sanguíneos guardados
e a sua tribo de portas sensíveis.
Cheira a teias eróticas. Arca delirante
arca sobre o cheiro a mar de amar.
Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.
O corredor lembra uma corda suspensa entre
os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.
Janelas que cheiram ao ar de fora
à núpcia do ar com a casa ardente.
Luzindo cheguei à porta.
interrompo os objetos de família, atiro-lhes
a porta
Acendo os interruptores, acendo a interrupção,
as novas paisagens têm cabeça, a luz
é uma pintura clara, mais claramente me lembro:
uma porta, um armário, aquela casa.
Um espelho verde de face oval
é que parece uma lata de conservas dilatada
com um tubarão a revirar-se no estômago
no fígado, nos rins, nos tecidos sanguíneos.
É a casa do mundo:
desaparece em seguida.” Luiza Neto Jorge


B.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A Verdadeira História da Alice (Rita Taborda Duarte)

"Todas, mesmo quase todas, as pessoas pequenas quando crescem se transformam em pessoas grandes. As mãos tornam-se compridas — e são capazes de um adeus que se distingue à distância; os dedos longos, e às vezes tão longos que quando apontam ficam para lá da vista, perto de tocarem o que querem apontar. As pernas são quase pontes sem água, arcos enormes por onde se passa; e entre cada passo que dão, cabem vinte ou trinta mais pequenos, ou então uma corrida de lebre em disparada. Os olhos deixam de ser de ver ao perto, e por isso não conseguem reparar, mesmo que queiram, nos olhos das formigas, que são de um verde-escuro, quase terra; deixam de conseguir ver os homenzinhos de sombra que entram à noitinha pela janela, e nos passeiam pelo quarto fora. E mesmo quando os apontamos com os nossos dedos pequenos de tocar as coisas próximas, dizem, rindo com a certeza dos olhos de ver ao longe, que não se trata de homenzinhos a sério, mas da sombra sem forma dos candeeiros que iluminam a noite lá fora.
Todas, quase todas, as pessoas pequenas quando crescem se transformam em pessoas grandes e só muito poucas se tornam grandes pessoas. Como a Alice. Mas, antes de ser uma grande pes soa grande, Alice já fora uma grande pequena pessoa. Por isso, quando cresceu continuou a ver os olhos verde-escuros quase terra das formigas. A diferença é que agora os via com os seus olhos grandes de grande pessoa que também conseguia distinguir a pupila azul-celeste-quase-céu nos mesmos olhos verde-escuro-quase-terra das formigas. E os seus dedos ficaram tão compridos que tornavam perto as coisas que estavam muito longe. E muitas vezes se via a Alice ir buscar uma gota de céu às nuvens e um fósforo de luz ao Sol..." Rita Taborda Duarte, A Verdadeira História da Alice



B.