domingo, 17 de fevereiro de 2013

(Vi)age(M) - parte 1

O sono interrompido pela fresta atrevida e luminosa da janela/o suspiro enquanto os corpos se fundem de prazer/o calor presente/odores vespertinos/ os pés/as passadas no chão flutuante/abres a torneira/sentidos perfumados enquanto a tristeza se apodera de nós/a procura canina de brincadeira com a ternura da sua paciência/calço-me, finalmente/a mesa/ a janela aberta para os sons da pequena floresta de eucaliptos que te avizinha diariamente/os vossos passos na rua a fugir à pressa da partida/ o saco já espera à porta/ o abraço furtivo/ o teu olhar depois da minha saída/ o elevador chegou e entro sem olhar para trás/caminho em direcção/a chuva disfarça a lágrima corajosa que fugiu/entro no carro e olho-te na janela dentro de casa/sigo/no carro o som da chuva não esconde o vibrar das tuas palavras ao meu ouvido/ pelo telefone/falamos no início da viagem/sigo/agora longe vou contar-te o que Vi/age sempre em busca do amor m/ o cinzento do dia completa o quadro de nuvens num céu pouco azul/na estrada fixo algo mas o olhar liberta-se/um bando de corvos marinhos atravessa o canal que alimenta os arrozais junto à fábrica branca abandonada/os barcos ali parados algures no rio/os campos perdem água/estão lavrados, já/verdes e coloridos pela realeza cinzenta das garças/uma aqui, outra a 20 metros de bico elevado como que a terminar o banquete matinal/mais uma, e outra e outra e olha outra/que bela manhã para observar aves/mas começo a afastar-me da brisa marítima/o cheiro a sal foge/ uma rapina espera no poste de madeira junto à comporta do canal/a casa abandonada/uma mulher de negro encostada á parede a olhar o pequeno cão castanho/um carro de mala aberta ao lado/o homem que segura a cana de pesca/mais gente de mota, no caminho de terra, se aproxima com canas/desvio o olhar para a minha esquerda/uma cegonha fez-me rodar a cabeça, ela plana e por fim pousa sobre o solo do arrozal/três cavalos, um branco, um pequeno e castanho e outro russo estáticos apreciam a queda suave das gotas de chuva, junto às ruínas do antigo armazém que sucumbiu ao tempo e às intempéries/ou então sorriem para a coragem de dois primos equídeos que permanecem em campo aberto, indiferentes, a pastar/garças boieiras, garças brancas, gaivotas, mais duas rapinas que sobrevoam a auto estrada/Greg Laswell, Other Lives, Birdy, Wild Beasts, Paper Lions, The XX, Ludovico Einaudi e a tua voz povoam-me até aqui/contínua a viagem/os campos já ficaram para trás, como tu/perco-te e ganho estas imagens de aves e árvores/ sim a árvore grande junto ao rochedo contínua com o olhar vincado no horizonte/os pinheiros ladeiam-na, mais a baixo eucaliptos, eucaliptos, eucaliptos/onde estão as árvores/campos cultivados e algumas casas/ há rochas ali/ o céu ficou mais azul/ carros/carros/carros/ começo a afastar-me do Mondego/sei que amo a minha serra, mas a coragem de lutar pela ausência de ti, começa a fazer-me mal/achas que a Primavera está a chegar?/em breve partirei da minha montanha/voltarei de férias para procurar os meus cheiros, os meus lugares, as histórias dos meus avós/passo junto ao rio que alimenta a cidade dos estudantes/as escadas do fado são para todos os seres/olho estas margens e as grandes árvores soldado que as protegem/ambas tristes e assustadas pelo sofrimento das lampreias, também elas em luta, mas de sobrevivência/em frente já vejo as montanhas/olho a serra rodeada de guardas nuvem/vejo aqui pinhal/ali o pinhal de outrora/os moinhos em cima da montanha/dizem adeus ou abraçam à chegada/as mimosas estão floridas/carros que partem e chegam aos destinos.(Parte 1)

p.s Fecha os olhos e escuta-me ao teu ouvido. No gira-discos  já é Primavera com Einaudi. Beijo.



B.

3 comentários:

  1. a distancia destroi sempre um pouco das nossas muralhas... e so no conforto do abraçado da pessoa amada as conseguimos de novo reconstruir. força... viagens de despedida serão sempre dolorosas.

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  2. Agradeçemos o comentário. Como foi o primeiro atribuímos o prémio: Medalhão-Palavra. PARABÉNS! Quanto à distância,... bom..., a distância ainda que muito dolorosa também tem um papel importante na maturidade e consolidação da saudade, da presença e do amor.

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  3. :D obrigada pelo prémio :D. mas que honra.
    sim a distancia tmb consolida e faz crescer a relaçao, a cumplicidade a confiança o amor e cada uma das pessoas. Mas doi muito quando prolongada por motivos alheios a nossas maos. :D

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