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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo ( Sophia de Mello Breyner Andresen)


“Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento”  Sophia de Mello Breyner Andresen  in “Livro Sexto

B.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Maria

Sendo eu uma apaixonada pela poesia portuguesa, resolvi adquirir um exemplar da "Poesia reunida" de Maria do Rosário Pedreira. Nunca tinha lido nada desta escritora. E confesso-me apaixonada pelas suas palavras!

O livro não é facil, e a sua poesia martela de forma profunda em temas que são inevitáveis de contornar - o amor, ou melhor o "desamor", as ausências, a morte e as partidas; A casa vazia, desprovida de luz e o silêncio ensurdecedor que invade e engole o soluço. Vale a pena espreitar!

Para quem nada conhece de Maria do Rosário Pedreira, aqui fica um dos meus poemas preferidos:

Não tenho planos, nem promessas, nem
filhos que nos convidem para almoços
de domingo - a minha ideia de família
resume-se a um retrato velho preso numa
gaveta; e o amor possível sei tão-só

o que li nos romances que me salvaram
da desordem quando o meu tempo
andava de ferida em cicatriz. Mas guardo
ainda muitos por estrear para essa estante

que ergueste no corredor como uma casa
nova. E trago portas abertas no coração:

se ainda não sabias, és muito bem-vindo.





M.

quarta-feira, 13 de março de 2013


Guarda tu agora o que eu, subitamente, perdi
(Maria do Rosário Pedreira)

Guarda tu agora o que eu, subitamente, perdi
talvez para sempre ― a casa e o cheiro dos livros,
a suave respiração do tempo, palavras, a verdade,
camas desfeitas algures pela manhã,
o abrigo de um corpo agitado no seu sono. Guarda-o

serenamente e sem pressa, como eu nunca soube.
E protege-o de todos os invernos ― dos caminhos
de lama e das vozes mais frias. Afaga-lhe
as feridas devagar, com as mãos e os lábios,
para que jamais sangrem. E ouve, de noite,
a sua respiração cálida e ofegante
no compasso dos sonhos, que é onde esconde
os mais escondidos medos e anseios.

Não deixes nunca que se ouça sozinho no que diz
antes de adormecer. E depois aguarda que,
na escuridão do quarto, seja ele a abraçar-te,
ainda que não te tenha revelado uma só vez o que queria.

Acorda mais cedo e demora-te a olhá-lo à luz azul
que os dias trazem à casa quando são tranquilos.
E nada lhe peças de manhã ―  as manhãs pertencem-lhe;
deixa-o a regar os vasos na varanda e sai,
atravessa a rua enquanto ainda houver sol. E assim
haverá sempre sol e para sempre o terás,
como para sempre o terei perdido eu, subitamente,
por assim não ter feito.

M