"O
silêncio é uma esteira onde nos podemos deitar.
Esteira de
poeira cósmica, se eu olhar de novo o céu escuro. Esse azul do céu me lembra o
chão do mar. Um mar, afinal, é só um deserto molhado, em vez de homens e
camelos, tem peixes e canoas a passear nele. O deserto é parecido com o mar, o
mar é parecido com o universo cheio de estrelas pirilampas.
O deserto podia
caber no peito do mar, o mar podia caber no corpo do universo, o universo só
pode caber no coração das pessoas. A mão dela estava perto da minha. Senti uma
comichão de ausência na proximidade daquele calor, sabia que os dedos dela
estavam ali, e continuava a falar para não saber, no coração, que todo o meu
corpo pedia uma carícia calada.
– Achas que
pode caber o quê, no coração das pessoas?
– Muitas
coisas. Um poema, uma recordação, um cheiro de infância, um «desejo de
estrelas»…
– Como é um
«desejo de estrelas»?
– É olhar para
uma estrela e desejar uma coisa." Ondjaki
B.
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