“«Accende lumen
sensibus» («Ilumina os sentidos»)recitava uma antiga invocação litúrgica, não
deixando dúvidas sobre o necessário envolvimento dos sentidos corporais na
expressão crente. Os sentidos do nosso corpo abrem-nos à presença de Deus no
instante do mundo. Em boa saúde, temos ao nosso dispor cinco sentidos (tato,
paladar, olfacto, visão e audição), mas a verdade é que não os aperfeiçoamos a todos
devidamente, ou, pelo menos, não os temos desenvolvido da mesma maneira.
Podemos receber
e transmitir informações tão diversas pelos sentidos, porque dispomos de um
cérebro que elabora e dirige. Mas falta-nos uma educação dos sentidos que nos
ensine a cuidar deles, a cultivá-los, a apurá-los. «Não sei sentir, não sei ser
humano» escrevia ainda Fernando Pessoa. E continuava: «Senti de mais para poder
continuar a sentir.» Efectivamente o excesso de estimulação sensorial em que
estamos mergulhados tem um efeito contrário. Não amplia a nossa capacidade de
sentir, mas contamina-a com uma irremediável atrofia. «Ah, se ao menos eu pudesse
sentir!» – é a proposição do desespero contemporâneo, que advém depois de se
ter experimentado tudo, em vertigem e convulsão…” José Tolentino Mendonça in A Mística do Instante - O Tempo e a
Promessa
B.
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