”Quem
esquece o amor, e o dissipa, saberá
que
sentimento corrompe, ou apenas se o coração
se
encontra no vazio da memória? O vento
não
percorre a tarde com o seu canto alucinado,
que
só os loucos pressentem, para que tu
o
ignores; nem a sabedoria melancólica das árvores
te
oferece uma sombra para que lhe
fujas
com um riso ágil de quem crê
na
superfície da vida. Esses são alguns limites
que
a natureza põe a quem resiste à convicção
da
noite. O caminho está aberto, porém,
para
quem se decida a reconhecê-los; e os própnos
passos
encontram a direcção fácil nos sulcos
que
o poema abriu na erva gasta da linguagem. Então,
entra
nesse campo; não receies o horizonte
que
a tempestade habita, à tarde, nem o vulto inquieto
cujos
braços te chamam. Apropria-te do calor
seco
dos vestíbulos. Bebe o licor
das
conchas residuais do sexo. Assim, os teus lábios
imprimem
nos meus uma marca de sangue, manchando
o
verso. Ambos cedemos à promiscuidade do poente,
ignorando
as nuvens e os astros. O amor
é
esse contacto sem espaço,
o
quarto fechado das sensações,
a
respiração que a terra ouve
pelos
ouvidos da treva.” Nuno Júdice in "Um Canto na Espessura do Tempo"
B.
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