Pensei e voltei
a pensar| qual a razão e a importância de escrever a parte 2 de (vi)age(m)|
ainda suspiro e olho o horizonte antes de iniciar a escrita| hoje, é novamente
domingo| não aquele domingo da parte 1| mas mais um domingo, longe de ti| fecho os olhos e recordo a paisagem daquele
dia| o azul tomou conta do céu soprando para longe as nuvens que me
acompanhavam na escuridão do coração| a ponte da barragem está calma| no meio,
a pequena ilha, com os três pinheiros, observam o pôr-do-sol| sigo, sim, sigo
para norte| com o desnorte da saudade de ti| as aves também estão em fuga|
aqui, junto da casa minimalista do pinhal, um homem lavra a terra| dizem que o
domingo é o dia do Senhor, mas também há quem defenda que é o dia do sol| não
sei| a indiferença de uns é a profecia de outros| pensei que hoje não os via|
mas eles passaram apressadamente para cumprimentar| são pretos, monogâmicos e
altamente hierarquizados| os corvos| andam agitados, amanhã deve estar vento
(dizeres dos antigos)| já foram| e tu também estás longe| engraçado, também
esta estrada está vincada| os rasgos parecem provocados pelas toneladas do
sofrimento de ausência| aqui há árvores| sabes que as árvores contam histórias
de encantar?| caminho pela estrada fora, no black| não precisa gps ou sistema
de navegação| sobe a serra para o outro lado, volta a correr para o lado de cá,
desce ao rio, para chegar ao mar| foge do gelo, vagueia pela neve e leva-me,
leva-me, leva-me| o longe, o perto| a distância| os paralelos das povoações
marcam o ritmo desta parte da viagem| começo a descer até à ponte que marca o
início de outro distrito| conheces| lá em baixo os salgueiros começam as
crescer e ganhar as vestes verdes para abraçar os ninhos dos pássaros| a água
do degelo corre apressada em busca da cidade do fado| já vejo bem a serra
nevada| o seu brilho dá-me um alento para a semana que amanhã começará| o
telefone tocou| aconchegado ao meu pescoço e em voz alta oiço-te| estou a
chegar| passei os semáforos| disse olá à nossa casa| subi e estacionei junto ao
canteiro das tulipas e margaridas| no verão é onde moram os pirilampos|
desligo| já cheguei| subo ao meu mirante| o saco que carrego, desce do ombro|
os movimentos robotizados de fim-de-semana percorrem a roupa e os cheiros de
ti| apetecia-me dançar contigo| até já| para a semana não te vejo| só na outra
a seguir, pois| este tempo que nem a minha caixa de música ajuda a passar|
enfim| mais uma semana de trabalhos| estes trabalhos, mais os trabalhos que não
consigo deixar de absorver pelas negativas energias de seres que jamais o
serão| como é possível sobreviver à estupidez humana e ao meu excesso de peito
exacerbado| vês quase que me perco no negativo| queria-me em ti| isso sim, vale
a pena sentir| problemas tornam a minha carapaça ainda mais forte| quero
acreditar que a minha paixão não morre nunca| gosto disto e daquilo, e descobri
isto e aquilo, vou mostrar-te aquilo e mais outra coisa| perdi-me novamente nas
músicas| o meu castelo terá grandes janelas| e a porta receberá os(as)
amigos(as)| personagens interessantes e escassas| mas únicas nas verdades da
partilha| anda dá-me a mão| vou levar-te ali| as palavras fazem-me perder|
julgo que a velocidade dos pensamentos e sonhos me atraiçoa a velocidade da
escrita| aprendiz, até ao último dia| bom, esta parte 2 é tão estranha e
envolvente como a primeira| sou quase absurda como Beckett (happy Days)| desejo
que cada dia seja um dia feliz para todos(as)| e lembrem-se de ir, agir e
viajar| até sentados naquela cadeira de pedra conseguiremos levitar| anda vem
comigo na (Vi)age(m)| amor.
B.
Sem comentários:
Enviar um comentário